MarsOne, os vendedores de sonhos marcianos

Junho 19, 2014 às 9:01 am | Publicado em Astronomia | 1 Comentário

Ninguém sabe quem será a primeira pessoa a pisar a superfície de Marte ou em que ano tal viagem será possível, mas de uma coisa podemos ter a certeza: não será nenhum dos finalistas do projecto MarsOne. Este projecto inventado na cabeça de um engenheiro holandês, Bas Lansdorp, antigo empresário na área da energia eólica, pretende mandar quatro humanos para Marte em meados da próxima década com um bilhete só de ida. Não há dúvida que o projecto é uma grande aventura planetária, mas Lansdorp anda a vender um sonho que não pode cumprir.

A intenção deste empreendedor holandês é enviar primeiramente uma missão robótica não tripulada, em 2018, como missão de demonstração. Para isso assinou com o gigante aeroespacial norte-americano, Lockheed Martin, um contrato para a concepção de uma sonda de aterragem não tripulada e com a companhia britânica SSTL, Satellite Surrey Technology Ltd, especialista em satélites, um outro contrato para a concepção de um satélite marciano geoestacionário para retransmissão de comunicações da sonda para a Terra e vice-versa. Estes dois contratos são apenas para a concepção, faltando depois dinheiro para a execução, não estando definido, para já, quanto vai custar a sonda de aterragem e o satélite em órbita. A MarsOne tem em curso uma campanha de crowdfunding para esta missão, mas até agora ninguém apresentou uma estimativa dos custos finais para uma missão destas! No sítio da MarsOne existe uma imagem da hipotética sonda muito semelhante à da sonda Phoenix da NASA, que custou 282 milhões de euros, incluindo lançamento. Será que é isto que a MarsOne espera recolher em crowdfunding, quando até hoje nenhuma campanha destas passou a barreira dos 30 e poucos milhões de euros!

Depois desta primeira fase é intenção de Lansdorp enviar uma segunda missão exploratória, em 2020, com um rover e outro satélite e, finalmente, em 2025, quatro astronautas para Marte. Antes da chegada dos pobres humanos, serão enviados, em 2022, alguns módulos para a superfície, que servirão de habitáculo para os futuros colonos. Depois da chegada da primeira tripulação, a cada dois anos, serão enviados mais quatro astronautas, até a população residente atingir vinte pessoas.

Existe uma enorme variedade de problemas associados a uma viagem destas e à permanência num ambiente hostil como é Marte que estão longe de estar resolvidos. Nunca uma experiência em condições similares foi realizada na Terra que desse bons resultados, basta lembrar a famosa experiência Biosfera 2, que foi um fiasco. Também ninguém sabe que quantidade de gelo de água existe no subsolo marciano que possa ser utilizado por estas tripulações? Outro problema serão as necessidades energéticas desta pequena colónia, que não serão viáveis de satisfazer só com o recurso à energia solar.
Quanto aos custos de uma tal missão são astronómicos e ultrapassam obviamente os 4400 milhões de euros, que a MarsOne pretende gastar. Há muitos anos, que a NASA tem planos para missões tripuladas a Marte, especulando-se valores na casa dos 140-200 mil milhões de euros. Como é que agora aparece alguém a querer ir a Marte por uma trigésima ou quadragésima parte destes valores! Além dos custos subestimados, os desafios técnicos são imensos como, por exemplo, fazer aterrar em Marte com precisão uma série de módulos habitáveis com massas superiores a qualquer uma das sondas actuais.

Para já, Bas Lansdorp pode sorrir. Teve 200 mil candidatos, na 1ª fase, alguns portugueses que nem disseram nada à família para não deixar ninguém preocupado. Teve também muita publicidade mediática sem desembolsar um euro, o patrocínio de algumas empresas importantes que dão uma aura de credibilidade ao projecto e alguns milhões de euros para manter o seu escritório na Holanda a funcionar, além de um contrato com a Darlow Smithson Productions (DSP), pertencente à Endemol, para filmar em formato de reality-show a selecção e formação dos primeiros concorrentes a futuros astronautas. Entre os 705 candidatos escolhidos para a 2ª fase, estão três portugueses que sonham com uma ida ao planeta vermelho. É pena que nunca cheguem a pôr os pés nas areias de Marte. Quando descobrirem que o rei vai nu, já Lansdorp anunciou ao mundo que a ideia era boa, mas que não arranjou dinheiro para ir ali ao lado.

Yuri Petrovitch Artyukhin

Agosto 19, 2013 às 1:24 am | Publicado em Astronomia | Deixe um comentário

O único cosmonauta que conheci durante a minha vida foi o Yuri Petrovitch Artyukhin, um engenheiro militar especialista em sistemas de comunicações, que esteve no espaço em Julho de 1974, na missão Soyuz 14. Conheci Artyukhin em Coimbra, durante uma pequena apresentação organizada pela Secção de Astronomia de Coimbra em 9 de Novembro de 1990. Uma coisa que me impressionou na altura foi a sua robustez física e o olhar profundo de quem já tinha visto o espaço. Tinha um ar tipicamente soviético. Tinha ao lado um tradutor da Associação Portugal-URSS, que lá foi explicando o que o homem dizia. Soube que morreu de cancro em 1998. Nunca mais ouvi falar dele. Ontem em conversa lembrei-me do homem.

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Marte na escola

Abril 22, 2013 às 11:12 pm | Publicado em Astronomia | 2 comentários

Termino mesmo com Marte. Em tempos pensou-se que era habitado e a nossa curiosidade fez com que fosse o mais visitado por máquinas de origem humana. Temos por lá muita coisa. Gosto desta rocha vermelha e gosto de falar sobre isto aos mais novos. Cumpro assim o meu destino. Levar os outros aquilo que as máquinas mandam para cá. Ver aqui.

O Cometa

Agosto 16, 2012 às 2:07 am | Publicado em Livros | Deixe um comentário

Fecho com um livro. Um livro que li há muito, quando passou por aí um certo cometa. É um livro velho como eu, gasto pelo tempo, pela usura dos dias. Mas ainda diz qualquer coisa. Ainda brilha na memória do tempo. Ainda faz vibrar qualquer coisa no íntimo de nós. Ainda o guardo como uma velharia. Mas já pouco me diz. Já passou à história. Como o cometa que lhe deu origem.

Darwin aos tiros

Março 2, 2012 às 10:38 am | Publicado em Astronomia | 1 Comentário

Só há pouco tempo é que tive oportunidade de comprar o livro do Carlos Fiolhais e do David Marçal, que saiu no ano passado, mas que já vai em 2ª edição. É um livro de histórias de ciência em que os autores com o seu humor dão uma abordagem curiosa e interessante a uma grande variedade de temas. O livro abrange várias ciências e obviamente que gostei de ler a parte da astronomia, embora fossem histórias conhecidas. Mas no geral é um bom livro de divulgação científica e não admira que já esteja em 2ª edição.

Reparei, no entanto, na parte que conheço, em alguns erros a corrigir na 3ª edição

Pág. 32 – Carl Sagan não morreu a 20 de Dezembro de 93, mas sim de 96

Pág. 42 – Ao contrário do que diz o livro, von Braun não foi preso por tropas americanas e levado à força para o outro lado do Atlântico, na verdade, ele entregou-se voluntariamente aos americanos, para não ser capturado pelos russos e foi por opção própria para os EUA.

Na mesma página diz que a ideia da ida do homem à Lua foi de Korolev. Bem, a ideia do homem ir à Lua é antiga, mas a forma como foi concretizada e o esquema da viagem deve-se obviamente aos americanos e a John C. Houbolt de Langley, que concebeu o método LOR (lunar-orbit rendezvous), fundamental na abordagem lunar. Korolev nunca desempenhou qualquer papel relevante nisto. Agora, a concepção LOR não era original de Houbolt, mas sim de um mecânico russo chamado Yuri Vasilievich Kondratyuk, que calculou em 1916-17 que o LOR era o melhor meio de conseguir uma descida na Lua com a conservação máxima de propulsante. Oberth também discutiu as possibilidades do LOR em 1929 e Harry Ross da British Interplanetary Society, actualizou as ideias de Kondratyuk em 1948. Portanto, mais uma vez, Korolev não tem qualquer papel em nada disto (ver “Chegamos à Lua!” de John Noble Wilford, Edição Livros do Brasil, 1970).

Pág. 47 – As Voyager não transportam uma placa, como diz o livro, mas sim um disco.

Em busca da estrela perdida

Janeiro 8, 2012 às 5:21 pm | Publicado em Astronomia | Deixe um comentário

Já lã vão 20 anos desde que o Público fez este destaque sobre a estrela de Belém. Nunca mais voltaram ao tema, mas na altura participei nisto com um artigo. Estive agora a rever o artigo e a pensar que o mistério pode não ser mistério nenhum. Na minha opinião, o relato bíblico sobre esta história é inventado e não é baseado em nenhum fenómeno real. Mas na próxima terça-feira lá estarei para discutir o assunto.

O mistério da estrela de Belém

Janeiro 4, 2012 às 11:44 am | Publicado em Astronomia | 3 comentários

Segundo reza a tradição quando Jesus nasceu recebeu a visita de três reis Magos, que foram a Belém guiados por uma estrela. Mas a verdade é que não se sabe quantos eram os reis Magos que a bíblia conta que vieram adorar Jesus. Nem sequer se sabe se eram realmente reis ou astrólogos. E não se sabe também se a estrela que seguiram existiu de facto ou se foi apenas uma história inventada para justificar o carácter divino de Jesus. Também não se sabe quando é que Jesus nasceu ao certo e se foi em Belém ou não? Mas o mistério da estrela de Belém continua hoje no imaginário popular e a suscitar debate entre os defensores das várias teorias a respeito do fenómeno. Na próxima terça-feira, vou discutir este tópico com o Frei Fernando Ventura em Aveiro.

Marte pelos olhos de um rover

Novembro 28, 2011 às 12:09 am | Publicado em Astronomia | Deixe um comentário

Voltar à escola onde fui um pouco da infância e ver que já nada é o que era. Ver que tudo é diferente excepto os olhos surpresos dos alunos que me observam. E pensar no quanto isto seria impossível no meu tempo de aluno. No quanto seria impossível viajarmos até Marte pelos olhos de um rover.

Os primeiros tempos do Spirit

Novembro 7, 2011 às 12:18 am | Publicado em Astronomia | Deixe um comentário

Em tempos escrevi um artigo sobre o primeiro ano do Spirit na cratera de Gusev. Naquela época, o rover estava no auge da fama e começava a encontrar os primeiros indícios de que a cratera tinha tido água no passado. Relembrei agora esses tempos ao encontrar o artigo que deixo aqui. Tenho pena de não ter dado seguimento ao texto, mas agora tudo já lá vai.

Aqueous Past in the Gusev Crater

Esta noite choveram estrelas…

Outubro 10, 2011 às 11:45 pm | Publicado em Astronomia | Deixe um comentário

Por acaso, não houve nenhuma chuva cadente, mas por causa dos meteoros do fim-de-semana (que diga-se de passagem foram uma grande decepção) lembrei-me deste artigo muito velhinho que escrevi há 20 anos para o Público. O artigo era sobre as Perseidas num ano (1991) em que não foram grande coisa. O artigo tinha sido escrito para sair no próprio dia, mas, por qualquer razão, saiu no dia seguinte. No entanto, apesar de ser um ano mau para ver meteoros, sempre deu para encher uma página de jornal. Cá fica como recordação. Já agora lembro uma coisa curiosa sobre estes artigos. Era tudo escrito à mão, pois naquele tempo não tinha computador. Depois de manuscrito, o texto seguia por correio para a malta da secção de ciências o passar para computador. O processo de escrita era muito arcaico, mas lá ia escrevendo umas coisas. No ano seguinte (1992) lá arranjei dinheiro para um computador e deixei de escrever à mão.

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